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A mostrar mensagens de junho, 2015

A pessoa

Não tens como não acreditar. Influenciam-te os teus sentimentos e o teu desejo contínuo de felicidade. Não consegues dormir sem que o assunto te incomode e te distraia do que realmente é importante para ti, sofres por não conseguir parar de acreditar, nelas, as pessoas. Pensas o quão errado estás e percebes que apenas tu estás certo, mas não o compreendes. Segues fielmente os teus princípios e não te deixas influenciar, acreditas sobretudo naquilo que a tua alma sente, conduzes-te até ao limite e entendes que não há limites.  Elas afastam-te, diminuem-te, usam-te e põem-te de lado, acreditam na tua resistência e creem ser possível manteres-te impávido, sem reação. Enganam-se, a elas e a ti. E tu choras, incólume mas destroçado por dentro, feito em mil pedaços. Esperas e desejas o dia em que alguma delas te possa compreender. A pessoa.

Solitude da ilusão

Estás preso numa espiral que te conduz sempre à mesma saída e, inevitavelmente, a uma nova entrada: o mesmo caminho que já percorreste.  O início é sempre o despertar de um interesse, a carência assola-te, precisas de um ombro amigo, de um abraço, de trocar elogios e ouvir palavras sensatas sobre algo que não és. Depois apaixonas-te e assustas-te porque começas a perder a razão e os teus pensamentos começam novamente a encaminhar-se para o caloroso e afável sentimento do amor. Sentes-te próximo, queres mais tempo para viver aquilo, queres intensificá-lo. Deixas-te ir devagar, julgas. Apaixonas-te e tentas encontrar lugar na tua lógica pessoal para o amor, o que é que sentes realmente? Estás a gostar, tu sabes disso, sentes-te encantado e maravilhado com o mundo novo que de repente surge à tua volta. Deixas-te levar e vais, segues em frente, pensas. Estás pronto para amar e amas. De repente já estás preso em ti mesmo e na solitude desse amor.   No fim acordas da il...

A morte

Passaram, de repente, três anos e não sinto a tua falta, mas sei que não estás aqui. Quiseste ir, foi opção tua, assim o decidiste. Deixaste-me orfão e detentor de um vazio que nunca pude preencher. Recordo as palavras que te disse naquela noite, como as esquecer? Não consigo decifrá-las, não sei de onde vieram, terá sido pura representação? Nem eu sou assim tão bom ator, nem as mentiras têm tanto significado.  Disse-te, nesse dia, que te amava, não menti, à minha maneira sentia-o, mas nunca o consegui mostrar. Estejas onde estiveres - não estarás em parte nenhuma, por certo - estás livre de mim contigo e de ti comigo.  Não sabes, mas eu tentei seguir-te os passos. A culpa é tua porque me julgaste capaz de uma solidão real, onde já não existias, enganaste-te. Hoje compreendo as palavras que nos teus momentos ébrios me dizias. E a culpa é minha, eu sei, deixei-te sozinho e disponibilizei-te a corda. Apenas a usaste. Eu sei. 

O voltar atrás

Esqueci-me de que não fui apenas eu que prossegui e detenho-me nas lembranças que já não existem, se não apenas na minha e na tua memória, talvez. Arrependo-me. Muitas vezes o faço. Perdi a noção do tempo e fingi seguir em frente. Olho para trás e percebo: continuo exatamente no mesmo sítio. Tudo o que aconteceu resume-se a uma palavra: erro. Mantenho-me na mesma posição de sonhador solitário que tudo ambiciona e que nada consegue. Permanecem os mesmos desejos, as ambições e as responsabilidades que pretendo ter. Não se concretiza, nada faço para que aconteçam. Tomo decisões e recuo em cada vez que avanço. Tu talvez tenhas evoluído, alcançaste, pelo menos, algumas das metas a que te comprometias na altura. Parece ter sido ontem que ainda te dizia o quanto eu te admirava e desejava o teu sucesso. Mantenho o sentimento, vazio da tua presença.  Continuo aqui, mas vou deixar de estar.

Uma espécie de início

Talvez eu até venha a gostar de ti e pode ser perigoso. Posso vir a olhar para ti e em vez de te olhar, começar a ver-te, a admirar-te, a considerar-te o ser que um dia poderei amar, de verdade. Desafias-me e propões-me entrar em percursos que me direcionam à tua essência, à tua liberdade sem condições, a conhecer a tua alma que poderá, um dia, fazer parte da minha. Acordas o melhor que há em mim e adormeces a besta. Dizes-te perto, mesmo longe, eu sei, não precisas de o dizer, porque te sinto. Começas a dar ordens sem verbalizares uma única palavra. Dizes-me para sorrir e eu esboço-te o meu melhor sorriso, pedes-me que me cale e eu nem te respondo, falas-me de arte e eu levo-te ao museu mais próximo. Posso ser o teu maior suporte, mas cuidado, porque todos os bons suportes vêm com alicerces difíceis de suplantar. Eis-me aqui, disponível. Pronto para te dizer aquilo que nunca pensaste ouvir. Árdua tarefa a tua, a de me acompanhares. Sorte a minha por não ter sido eu a escolh...

Como uma viagem ao passado

Vais olhar para trás e descobrir a volatilidade do tempo, perceber que tinhas razão em acreditar e que tudo é apenas pura criatividade. Acompanhado, por certo, vais escrever, em tom demorado e agradecido, com menos génio pela felicidade que te acaricia, mas vais escrever a ti próprio. Agradecer o esforço e a dedicação, o empenho e a tolerância. Vais olhar para trás e escrever: "Tive dúvidas em todo o processo, mas aqui estou, tinhas razão." Nesse dia libertas-te de mim. Não, nunca soube qual seria o desfecho, mas tu também não o saberás tão cedo. Continua a acreditar, é a única forma de o conseguires.

Autobiografia

Complexidade obscurecida pela alma entediada e perplexa de solidão. Máscaras que caem sobre máscaras e raízes que se arrancam sem grande esforço. Medos e ambições sobrenaturais, desejo de um poder desmedido e sem proporções, gostos sem sentido mas extremamente desejados. Angústias disfarçadas com sorrisos falsos e envergonhados que fixam uma personalidade construída por cima da amoralidade que carateriza a pessoa. Desconhecimento e ignorância não assumidas entre as ações inatas e irrefletidas. Um empobrecimento físico daquilo que se ambiciona grande e um complexo natural pela imoralidade do amar os outros. Amar, sem querer o amor, sem a possibilidade de o poder perceber. Mas amar, amar o outro por igual, da mesma espécie e natureza. Do mesmo sexo. Escárnio sexual fruto de uma carência inoportuna e repetida. Imbecilidade e alguma proeza nos jogos do saber, futilidade assumida pela descrença no outro.  Sensibilidade destruidora do saber próprio e da confiança. Incauto, calcu...

O regresso

Todos os dias fazes um novo caminho, dás um novo passo e segues em frente no teu percurso. Procuras saídas, oportunidades, novos mundos e pessoas diferentes. Procuras e encontras, envolves-te e evoluis. Mas a tua história não se altera, não se apaga e muito menos se destrói.  Relembras os hábitos, as angústias, lembras-te das noites a olhar para o vazio e a pensar em tudo aquilo que fizeste, pensas na vida e o que podias fazer fora dali. Lembram-te as pessoas, as suas histórias, a forma como te divertias e como choravas sempre que lá dentro viajavas cá para fora. Foi difícil, apesar de tudo ter sido tão mais fácil lá dentro.  Gritas por socorro, impressionas-te com a tua besta interior e choras em pranto. Suplicas por um fim, pedes-lhe que te dê descanso e que te permita continuar, que te apague as memórias mais incómodas que habitam dentro de ti. Não consegues fazê-lo, nem Ele. É a tua história, o teu percurso e, de todas as vezes, vais regressar, sentir o mesmo, as ...

Quem disse que não foste tu?

Sim, mentiste e enganaste demasiada gente à tua volta. Cometeste tamanhos erros que te perseguirão enquanto respirares o ar que, condenado, pensas não merecer.  Não, ninguém te condenou ou te colocou no lugar onde merecias ter estado.  Sim, saíste ileso, mas não vitorioso. Sofres, todos os dias um bocadinho, por teres sido quem és. Lutas diariamente por conseguir melhor, fazes um esforço e arrependeste de ter feito o que fizeste. Esperas que um dia as coisas se componham e voltes a sentir algo. Esse dia vai chegar, mas até lá vais ter de aprender, aos poucos, como amar os outros, entregar-te naturalmente, sem medo de te perderes.  O teu medo e a tua angústia, sim, o teu sofrimento, são a tua sentença. Não te condenes mais porque já tiveste a tua dose, como eles dizem. E não te arrependas. O mal está feito, o importante é corrigi-lo. Todos nós somos poços infinitos de misérias e de histórias escondidas que tememos revelar, e tu já te expuseste em demasia. Reco...

São amorais e existem

Esqueceram-se eles daquilo que realmente importa e deixam-se ir, juntos, como se o normal fosse inquebrável e como se quebrar a regra fosse arrojo e falta de ética. Correm, a velocidades estonteantes, sem amor, sem gosto, sem conhecimento. Dão tudo e deixam-se ficar. Aos poucos, começam a retirar-se e a perder o interesse, mas não o assumem, têm medo, presumo.  Deixam-se imóveis como maçãs podres caídas no chão. Alguém as pegará, sem fome, apenas por misericórdia e deitá-las-á no lixo, junto de todos os resíduos não desejados. Sem fôlego tentam respirar e esconder-se na mentira das suas ilusões. Complicam em vez de viver. Queixam-se da falta de animosidade, pobres estafermos.  Não têm valores morais ou imorais, apáticos desnudos sem pingo de veracidade. Apenas fingidos e sem gosto pessoal, refúgios de si próprios e sem graça. Cansam a alma, a deles e a dos outros.