O poeta é um fingidor
Segues em frente e escondes o sufoco de nunca teres querido sair de onde estavas. Arrumas as gavetas e eliminas os vestígios, guardas as lembranças na velha caixa de sapatos onde abafas as lágrimas que proíbes de percorrerem o teu rosto.
De quando em vez lembram-te os momentos, as músicas, os jantares simples, num quarto pequeno, que davam razão ao teu dia. Finges-te desiludido e mascaras as emoções. Trocas as recordações que um dia te fizeram feliz pelos sonhos que trarão motivos para sorrir.
Não és mais do que um poço com um fundo acobertado de esqueletos e memórias do passado e ainda assim recusas a encher-te de motivos para continuar em frente e isolas-te. Insistes num futuro cheio de certezas enquanto vês o presente passar por entre ti e a tua alma presa no passado.