O sonho
Já com os olhos semi-cerrados desliguei o computador. O sono apoderou-se da cabeça cheia de pensamentos e de barreiras que sabia ter de ultrapassar. Fechei os olhos e depressa fui conduzido a uma cenário negro, muito negro, onde de repente o passado é presente e o terror assola a alma, confundido os tempos e os espaços.
Estavam lá todos os episódios e lembro-me da angústia. Eu estava presente, era o protagonista, mas não me percebia, não conseguia compreender aquele meu "eu" passado a viver no "eu" presente. Falava com ela sobre como pensamos e agimos e sentia-me confuso, tinha muito conhecimento e a minha cabeça rebentava. Não sei em que divisória estaríamos, mas pertencia àquela casa naquele local onde de tudo aconteceu.
No meio disto, ele sobe umas escadas enquanto fala ao telemóvel, passa pelo aro da porta daquela divisão que nunca existiu; a porta também lá não estava. Ela disse-me que ele deveria ter vindo buscar coisas que ainda eram dele. Mas que coisas, pensei. No momento, pensava no escândalo, como as outras iriam ficar chateadas por ele ainda ter as chaves da casa, mas as outras já não eram as mesmas, pensava em quem supostamente lá vive agora. A casa parecia tão maior, tão diferente. Quem vivia lá agora eram as outras duas de um outro cenário completamente diferente, pelo menos uma delas era, a outra era só uma cara conhecida que por lá apareceu e se colou naquele puzzle desconstruído.
Ele desceu as escadas e não resistimos, atirámo-nos para a frente dele. Ele ignorou e continuou a falar ao telefone. Levava um saco com coisas. Fui sozinho nesse momento, acompanhei-o até ao final da escadaria e esperei que terminasse o contacto. Confrontei-o, ataquei-o, queria respostas mas não parava de lhe pedir explicações, sem o deixar falar. O mesmo que sempre aconteceu anteriormente na realidade. Ele fugia. A sensação que tinha era de alguém em desespero que queria correr dali para fora e eu insistia no ataque, não o querendo deixar sair.
Fugi para a varanda da frente onde estavam as outras duas. Fingia uma sensação de conforto, como o fazia no passado, tentando ignorar a instabilidade que sentia. E depois ele surge como quem se vai embora e eu tento impedi-lo, continuo a atacá-lo. As outras duas saem para um quarto estranho, inexistente na realidade, e ao passarem por ele, abraçam-no e ele foge desse abraço, como quem sendo sugado resiste com todas as forças àquele contato.
E lembro-me de nesse momento ter entrado na minha própria cabeça e ter perguntado: "Mas, afinal, o que é que tu queres mesmo dele?" E lembro-me de ter pensado que o que eu queria era um abraço, só queria que ele me abraçasse tão calorosamente como sempre fez e, de repente, a fuga. Ele foi, não me deu o abraço, e eu confrontei-o com o saco. Tinha coisas estranhas. Um tacho e uma cómoda, que eu insistia em dizer-lhe que não era dele, fora o que ele tinha ido buscar. Pedia-lhe as chaves, disse-lhe: "Já imaginaste o que seria elas saberem que tu ainda tens a chave? A vergonha? Não é que eu ache que tu serias capaz de vir e assaltar a casa, de todo, eu conheço-te, acredito em ti. Mas, imagina. Imagina que a casa tinha sido assaltada enquanto elas cá não estavam. De quem seria a culpa? Não era tua! Era minha porque permiti que ficasses com as chaves." Não entendi o que dizia, não percebia o porquê. Só ouvia alguém desesperado a dizer: "Fica, não fujas. Fica, deixa-me olhar para ti."
E depois o saco que ele me deu, com partes de um shaker e outras peças parecidas com as de uma cozinha de brincar. Eu estava confuso, tudo parecia correr muito rápido, queria perceber o que estava dentro do saco, mas tinha medo de deixar de o ver e que ele desaparecesse. Ele desceu até à porta da rua e eu suprimi tudo aquilo a uma frase: "Porque não ficas?", perguntei. E ouvi, pela primeira vez neste melodrama, as suas palavras: "Tenho alguém à minha espera no carro."
Fugi para a varanda da frente onde estavam as outras duas. Fingia uma sensação de conforto, como o fazia no passado, tentando ignorar a instabilidade que sentia. E depois ele surge como quem se vai embora e eu tento impedi-lo, continuo a atacá-lo. As outras duas saem para um quarto estranho, inexistente na realidade, e ao passarem por ele, abraçam-no e ele foge desse abraço, como quem sendo sugado resiste com todas as forças àquele contato.
E lembro-me de nesse momento ter entrado na minha própria cabeça e ter perguntado: "Mas, afinal, o que é que tu queres mesmo dele?" E lembro-me de ter pensado que o que eu queria era um abraço, só queria que ele me abraçasse tão calorosamente como sempre fez e, de repente, a fuga. Ele foi, não me deu o abraço, e eu confrontei-o com o saco. Tinha coisas estranhas. Um tacho e uma cómoda, que eu insistia em dizer-lhe que não era dele, fora o que ele tinha ido buscar. Pedia-lhe as chaves, disse-lhe: "Já imaginaste o que seria elas saberem que tu ainda tens a chave? A vergonha? Não é que eu ache que tu serias capaz de vir e assaltar a casa, de todo, eu conheço-te, acredito em ti. Mas, imagina. Imagina que a casa tinha sido assaltada enquanto elas cá não estavam. De quem seria a culpa? Não era tua! Era minha porque permiti que ficasses com as chaves." Não entendi o que dizia, não percebia o porquê. Só ouvia alguém desesperado a dizer: "Fica, não fujas. Fica, deixa-me olhar para ti."
E depois o saco que ele me deu, com partes de um shaker e outras peças parecidas com as de uma cozinha de brincar. Eu estava confuso, tudo parecia correr muito rápido, queria perceber o que estava dentro do saco, mas tinha medo de deixar de o ver e que ele desaparecesse. Ele desceu até à porta da rua e eu suprimi tudo aquilo a uma frase: "Porque não ficas?", perguntei. E ouvi, pela primeira vez neste melodrama, as suas palavras: "Tenho alguém à minha espera no carro."