A farsa
Tento admirá-las, apreciá-las, dar-lhes algum crédito, ainda que não lhes reconheça boa cobrança, insisto e acabo por odiá-las. Todas elas são iguais: frágeis, infiéis, depressivas, ilusórias, falsas. Todas procuram mentir a cada oportunidade, a si próprias e a mim, que as consolo na sua tragédia dramatizada.
Procuro reconhecer-lhes valor, acreditar que é possível alimentar a sua sede de harmonia e consolo pessoal. Dou-lhes a estima que outros roubaram e envolvo-me na fraude. Sou furtado na minha sede de bem querer e acabo usado como um trapo que serviu para limpar destroços de uma alma sofrida e enraivecida de vingança. Sou o sexo que uso para esquecer a física carnal passada. Uso e sou usado, e tudo o resto desaparece.
E quando eu quiser mais? Quando eu deixar de me preocupar e simplesmente me apaixonar, quem vai lá estar por mim? Quem vou eu puder usar, defraudar e utilizar como objeto carnal sem alma nem glória? Serei eu capaz disso?