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A mostrar mensagens de agosto, 2015

O sonho

Já com os olhos semi-cerrados desliguei o computador. O sono apoderou-se da cabeça cheia de pensamentos e de barreiras que sabia ter de ultrapassar. Fechei os olhos e depressa fui conduzido a uma cenário negro, muito negro, onde de repente o passado é presente e o terror assola a alma, confundido os tempos e os espaços.  Estavam lá todos os episódios e lembro-me da angústia. Eu estava presente, era o protagonista, mas não me percebia, não conseguia compreender aquele meu "eu" passado a viver no "eu" presente. Falava com ela sobre como pensamos e agimos e sentia-me confuso, tinha muito conhecimento e a minha cabeça rebentava. Não sei em que divisória estaríamos, mas pertencia àquela casa naquele local onde de tudo aconteceu.  No meio disto, ele sobe umas escadas enquanto fala ao telemóvel, passa pelo aro da porta daquela divisão que nunca existiu; a porta também lá não estava. Ela disse-me que ele deveria ter vindo buscar coisas que ainda eram dele. Mas que ...

A farsa

Tento admirá-las, apreciá-las, dar-lhes algum crédito, ainda que não lhes reconheça boa cobrança, insisto e acabo por odiá-las. Todas elas são iguais: frágeis, infiéis, depressivas, ilusórias, falsas. Todas procuram mentir a cada oportunidade, a si próprias e a mim, que as consolo na sua tragédia dramatizada.  Procuro reconhecer-lhes valor, acreditar que é possível alimentar a sua sede de harmonia e consolo pessoal. Dou-lhes a estima que outros roubaram e envolvo-me na fraude. Sou furtado na minha sede de bem querer e acabo usado como um trapo que serviu para limpar destroços de uma alma sofrida e enraivecida de vingança. Sou o sexo que uso para esquecer a física carnal passada. Uso e sou usado, e tudo o resto desaparece. E quando eu quiser mais? Quando eu deixar de me preocupar e simplesmente me apaixonar, quem vai lá estar por mim? Quem vou eu puder usar, defraudar e utilizar como objeto carnal sem alma nem glória? Serei eu capaz disso?

O palco

Atrás da mentira, escondo as minhas verdades e descubro-me diferente daquilo que sempre representei. Procuro uma saída, de forma constante e repetida, e nunca chego a abrir qualquer uma das portas, as quais jamais ouso atravessar.  Olho para trás e percebo a quantidade de palavras que usei para descrever uma realidade ficcionada por mim próprio e onde exemplarmente representei, sendo paralelamente o protagonista e o antagonista, replicado em cenas trágicas e sem perdão.  Recuo, de todas as vezes, e o pano cai. Não oiço os aplausos, não vejo a plateia e não a sinto. Estou sozinho em palco e a cortina não precisa de descer, porque nunca foi necessário subi-la. Representei apenas para mim e o contra-cena já não existe. Estou sozinho e oiço o silêncio. Acabaram as falas, já não há texto para decorar, as luzes apagaram-se. Eu continuo em palco.