A Resposta
São amantes e encontram-se num ponto de entrosamento em que nada mais importa, em que a existência do outro é a razão suficiente para o simples ato de existir. Mas esquecem-se de si e dos outros, esquecem-se de acontecer e realizar aquilo que outrora ambicionaram. São amantes e amam-se no sufoco desse veneno precioso que lhes queda parte de si no mundo, apagando o restante.
Quis um dia alguém perceber o que era o amor e por breves momentos senti-los. Procurou encontrar essas vítimas, desoladas e ainda assim apagadas de uma realidade física e visível aos olhos de todos os outros. Encontrou-os mas não satisfez a curiosidade. Não entendeu o amor, como queria percebê-lo, mas achou-o grotesco, poderoso instrumento de ameaça à vida e manipulação frívola da racionalidade. Esgotou as hipóteses e concluiu-se mal amado ou. nas suas palavras, um felizardo desprovido desse veneno.
Um dia, tão rotineiro como os demais, sucumbiu, sem se aperceber, e caiu em desgraça. Apaixonou-se. Lenta forma essa de amor que assola a alma e mascara os olhos, deixando-os perceber um interior de ilusões que apagam a imagem real e impedem a observação crítica, inerente a todos os seres atentos. Lentamente foi conquistando o outro, pensava, deixando-o invadir-se de sensações nunca antes vividas.
Aproximou-se do seu mestre, aquele que sempre o conduziu nas suas investigações, e questionou-o pela primeira vez: "Eu amo, mas porque não consigo perceber o que é o amor?" A resposta deixou-o ainda mais confuso e só mais tarde, talvez, venha a entendê-la: "Não perceberás nunca o que é algo que não faz parte da tua realidade, mas ao vivê-la deixas de ser capaz de a questionar. Não sabemos explicar o que sentimos ou porque o deixamos de sentir. Talvez o amor não seja mais do que isso: um fenómeno. Um dia me dirás."